sexta-feira, 4 de julho de 2008

Norma em 68

Por Cláudio Dantas

De Eva a Giselle Bundchen a mulher teve participação importante na construção da história humana, Eva, supostamente, influenciou na perda do paraíso; Giselle, por sua vez, confirmou um modelo de beleza física e, principalmente, peso que leva toda uma legião de mulheres aos maiores sacrifícios em busca de um corpo que, ao menos, se assemelhe ao da “diva” dos nossos tempos. Provar do fruto proibido ou andar alguns metros numa passarela é tarefa fácil, agora, pegar em armas como fez Anita Garibaldi, desafiar uma sociedade em nome de uma paixão, luta esta, enfrentada por Ana de Assis no início do século 20, nos leva a crer que as primeiras tiveram ou têm um papel de coadjuvante nesta caminhada.

No Brasil conservador dos anos 50, surge num filme estrelado por Oscarito, Norma Benguell, mulher que quebraria em 1962 o tabu do nu frontal no filme Os Cafajestes. Os atores recebiam a chancela de cafajestes, para Norma foi atribuída à qualificação de desavergonhada para não dizer coisa pior. Antes, a “certinha do Lalau” (Norma foi uma das “certinhas do Lalau”, denominação dada por Sérgio Porto ou Stanislaw Ponte Preta para suas Musas da estação), depois uma mulher corajosa que enfrentou a ditadura militar implantada no Brasil em 64.Em 68 quando encenava Cordélia Brasil, um sucesso de público, Norma é seqüestrada em São Paulo por agentes da repressão, permanecendo em poder dos seqüestradores por 24 horas.Enfrenta os temidos interrogatórios com coragem, informa que irá relatar todo o acontecido à imprensa e ouve uma das maiores ironias daquele período de trevas: “Nós estamos numa democracia, a senhora pode falar o que quiser”.

Quando à atriz Tônia Carrero recebe voz de prisão numa manifestação em homenagem à Democracia e à Liberdade, mais uma vez Norma demonstra sua perplexidade diante da falta de liberdade vivida no Brasil, num grito singular, ela chama o tenente Terci de “tenente barato, inexpressivo, e sem preparo”.

Obviamente, como é da natureza humana, haverá um questionamento sobre a Norma de hoje e o seu polêmico “O Guarani”, mas aviso que estou, apenas, relembrando aquela mulher de 68.Norma Benguell conheceu o saboroso papel de símbolo sexual, depois de atriz talentosa no teatro e no cinema, mas foi diante das atrocidades cometidas pelo Estado que ela mostrou o lado politizado e corajoso ao enfrentar com bravura os desmandos da ditadura então estabelecida.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

1968

Por Beatriz Cecchetti (Editoria Mundo)

O conturbado quadro político dos países da América Latina em 1968 era fruto dos laços de dependência econômica que estes ainda mantinham com potências capitalistas. Apesar de já serem independentes no âmbito da política, existiam forças reformistas, nacionalistas e, de extrema esquerda que queriam democracia e autonomia. A onda de ditaduras militares se alastrava na mesma proporção que cresciam os movimentos pró-libertação, reformistas, revolucionários e guerrilheiros.

Conhecida como “Terceiro Mundo”, a América Latina, aos poucos, foi se mostrando tão divergente que, este termo só se servia para distinguir os países “pobres” dos “ricos” de acordo com seu PIB - Produto Interno Bruto.

Segue, abaixo, um breve resumo do que acontecia nos principais países da América Latina.

Na Argentina, desde 1966 após um golpe de Estado, o general Juan Carlos Onganía assumiu a presidência. Seu governo teve inúmeras crises, principalmente dentro do próprio Exército.

A Bolívia teve na época, um presidente ditador que ao mesmo tempo, era revolucionário, René Barrientos Ortuño. Esse mesmo presidente mandou matar Che Guevara, em 1967.

Em 1968, no Chile, Eduardo Frei Montalva, após ter vencido Salvador Allende nas eleições de 1964, governava. Ele era democrata cristão e teve apoio da CIA em sua campanha anti-esquerdista. Foi sucedido por Allende após o golpe de Pinochet em 70.

Carlos Lleras Restrepo, tentou implementar na Colômbia uma política reformista, conhecida por “Transformação Nacional” cujo foco era em políticas econômicas, sociais e culturais. Era liberal - chegou até ser presidente do partido – e só saiu do seu cargo de presidente da Colômbia em 1970 com o golpe do general Rojas Pinilla.

Osvaldo Dorticós Torrado foi o último presidente de Cuba antes de Fidel Castro. O comunista foi quem anunciou, em um encontro das Nações Unidas, que Cuba possuía armas nucleares.

No Paraguai, presidia o general Alfredo Stroessner Matiauda – militar mais jovem que já recebeu a patente de general na América do Sul. Após dar um golpe, ficou no poder por 7 mandatos consecutivos. Boicotou Ronald reagan e asilou em seu país ex-nazistas. Morreu exilado no Brasil em 1989.

No Peru, uma junta militar liderada por Juan Velasco Alvarado toma o poder e toma algumas medidas. Dentre elas: nacionalização quase que completa da economia, reforma agrária, igualdade das mulheres, autonomia das universidades, censura e controle dos meios de comunicação. Alvarado, que possuída ligações estreitas com a URSS, é deposto em 1975.

O uruguaio Jorge Pacheco Areco, na tentativa de fugir do imperialismo norte-americano, implantou medidas de segurança, prendeu dirigentes sindicais e assassinou estudantes. Teve um governo marcado pela barbárie.

Raúl Leoni Otero era democrata e lutou contra qualquer tipo de ditadura na Venezuela. Inaugurou a hidrelétrica de Guayana, o Banco dos Trabalhadores e, fez reformas importantes nas leis sociais e trabalhistas.

E, no Brasil, estávamos sob a ditadura do marechal Artur da Costa e Silva. Nesse momento começou a fase mais dura da ditadura brasileira, que o general Médici deu continuidade. Dentre outras medidas, o então presidente promulgou o – famoso – AI-5, que lhe dava poder para fechar o Congresso Nacional, cassar políticos e insitucionalizar a repressão.

O Fracasso de Annuska

Por Isabela Kastrup (Editoria de Cinema)

Annuska, manequeim e mulher, filme brasileiro de 1968 que marcou a estréia do diretor e roteirista paulistano Francisco Ramalho Jr., foi um verdadeiro fracasso de público e de crítica. Baseado num conto de Ignácio de Loyola Brandão, intitulado Ascensão ao mundo de Annuska, que está no livro Depois do Sol, o filme narrava a história de uma bela moça, Annuska (Marília Branco), aspirante à carreira de modelo, que troca seu amante de meia-idade, Bernardo (interpretado por Francisco Cuoco), pelo jovem e belo Sabato (interpretado por Ivan Mesquita).

O filme, que teve Loyola Brandão atuando como roteirista, marcou a estréia do ator José de Abreu na telona, fazendo um papel minúsculo, foi o primeiro trabalho da empresa de produção cinematográfica Tecla, que reunia nomes expressivos do cinema brasileiro, como João Batista de Andrade, Francisco Ramalho Jr., João Silvério Trevisan e Sidney Paiva Lopes.

Em texto autobiográfico e de memórias, intitulado Uma trajetória particular, o cineasta João Batista Andrade conta que Annuska surgiu numa época em que o mercado de cinema no Brasil (no final dos anos de 1960) tinha uma estrutura obsoleta e pouco inovadora. Os circuitos eram dominados pelo cinema norte-americano, até mesmo pela ausência de uma produção brasileira contínua, que fosse capaz de ocupar e garantir a ocupação das salas nas capitais e no interior.

Nessa época, João Batista já amargava a censura de seu filme Liberdade de imprensa pela ditadura militar: ao ser exibido no Congresso da UNE em 1968, foi apreendido pelo Exército e proibido em todo o território nacional.

Como as novelas faziam estrondoso sucesso de público na época (basta lembrar O direito de nascer), o grupo de cineastas da Tecla resolveu apostar num filme estrelado por Francisco Cuoco, galã das novelas que tinha popularidade impressionante. O plano era ganhar dinheiro com um filme mais comercial, Annuska e assim angariar recursos para que João batista de Andrade pudesse fazer o seu filme, mais político. Mas o tiro saiu pela culatra. Conta João Batista de Andrade:

“Ramalho achava que o projeto teria tudo de "comercial", ainda mais com o Francisco Cuoco, e que com o dinheiro da renda conseguiríamos fazer um outro projeto - o meu, mais político, com forte influência do Cinema Novo e do cinema do italiano Francesco Rosi (Ma no su la citá, O bandido Giuliano, O caso Mattei etc.). O resultado, aliás bastante comum nesse tipo de projeto, foi no mínimo péssimo, a ponto de o ator, que se tornara sócio do filme, desconfiar da seriedade de nossas contas. Mas as contas eram verdadeiras e o Anuska sequer se pagou. Isto é, não se transferiu para o filme o prodigioso sucesso do ator”.

Esse tipo de tentativa – aproveitar o sucesso da TV para alavancar sucessos no cinema nacional deu certo em muitos outros casos, como, por exemplo, A dama do lotação, de Neville deAlmeida, que explorou a nudez de Sônia Braga e deu ótima bilheteria, apesar de mal recebido pela elite formadora de opinião, que considerou o filme meramente pornográfico.

O fracasso do filme foi, de qualquer forma, um resultado da atmosfera pesada e opressiva dos anos de chumbo.

O cineasta Francisco Ramalho Jr., em foto recente.

O diretor João Batista de Andrade (ao centro) nas gravações de Mercúrio no pão de cada dia (1976), produzido para a TV Globo.

Um ano no meio do Cinema Novo

Por Karina Rocha (Editoria de Cinema)

O ano de 1968 foi de repressão em todos os sentidos e isso não é nenhuma novidade. Assim sendo o cinema não ficou de fora e o movimento “Cinema Novo” que tinha se iniciado em 1952. O movimento primava por um cinema com mais realidade, mais conteúdo e um menos custo em comparação às grandes companhias cinematográficas.

O ano de 68 foi um divisor de águas para o movimento, pois separa a segunda da terceira fase deste processo.

O Cinema novo já estava em sua segunda fase, onde o propósito passou a ser analisar a política e a ditadura militar, foi a estréia de O Bravo Guerreiro, de Gustavo Dahl.

Daí em diante entra a fase tropicalista, terceira no Cinema Novo, e de grande representatividade nacional. Era a hora de extravasar, não se importar com conseqüências e encarnar o verde-amarelo.

O grande marco desta nova fase é Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, que estréio no ano seguinte, 1969.

Mais uma vez a repressão veio, deu fim ao movimento, e inúmeras produções foram fracassos comerciais.

O “GRANDE TEATRO” DE 1968 – Com Foco Em Zé Celso Martinez Corrêa

Por Brunna Condini (Editoria de Teatro)

O Teatro, como várias outras expressões artísticas, foi sufocado pelos acontecimentos políticos e transformações sociais de 68. O Ato Institucional número 5 baniu os ensaios de socialização da cultura no país. O Teatro mais artístico se refugiou nas pequenas companhias, com pouco dinheiro e pouco público.

Em 1968, o autor e diretor, estava no auge do desenvolvimento da linguagem de sua companhia. O Teatro conheceu um movimento arrebatador que não sobreviveria à tanta repressão.Participou desse período com o mesmo gás, o Teatro Arena,de Augusto Boal. Ambos tiveram que se exilar, mas isso não abalou a dedicação em criar uma dramaturgia própria, totalmente brasileira. Bons profissionais surgiram de seus trabalhos. Fincaram a história do Teatro no país.Ambos foram violentamente interrompidos pelo AI-5.

Formou, em 1958, um grupo de teatro amador, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, que daria origem ao Teatro Oficina, marcado pelo compromisso de fazer uma obra de caráter inovador. Entre suas mais famosas montagens estão como Quatro num quarto, de Valentin Kataiev, e Andorra, de Max Frisch, dirigidas por ele e por Carlos Queiroz. Em 1967, com a montagem da peça O Rei da Vela, de Oswald de Andrade passou a desenvolver-se e expressar-se através do espetáculo-manifesto. Foi duramente censurado e acabou indo para o exílio.

Em 1970 vivenciou todas as experiências da contracultura. Era um líder de sua comunidade teatral e diretor das montagens com criações coletivas. Em 1990, ressurgiu com o Oficina,conectado ao tempo e conectando constantemente vida e Teatro. Reinventou-se.

Nos anos 90, o Oficina voltou a atuar em São Paulo sob o seu comando, com nova organização,mas procurando manter a mesma linha teatral com projetos como Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues e, mais recentemente a epopéia de Os Sertões de Euclides da Cunha que retrata o episódio da Guerra dos Canudos. Entre outras peças de destaque em que dirigiu, pode-se citar Pequenos burgueses, de Maksim Gorki (1963) e Roda Viva, de Chico Buarque (1968).

Teve como colaboradores nomes que também são verdadeiros marcos na história teatral brasileira,como Renato Borghi,Fauzi Arap,Célia Helena,Eugenio Kusnet, e também uma privilegiadíssima atuação de Henriette Morineau em Todo anjo é terrível,de Ketti Frings,em 1962.

"Durante cerca de uma década, década excepcionalmente efervescente, José Celso foi, provavelmente, a personalidade criativa mais forte do teatro brasileiro; foi, em todo o caso, o encenador mais aberto a idéias ousadas e sempre renovadas, capaz de realizar, a partir delas, espetáculos surpreendentes, generosos, provocantes, excepcionalmente inventivos. Sua atuação, nessa época, marcou não só o teatro nacional - Pequenos Burgueses, O Rei da Vela e Na Selva das Cidades, pelo menos, têm lugar garantido e importante na História desse teatro - como também a arte brasileira em geral. Durante esse tempo, ele foi um divisor de águas, um ponto de referência e uma fonte básica de influências".
(Yan Michalski – Fala sobre a importância hegemônica de Zé Celso durante a década de 60)

Zé Celso e toda memória do Oficina, ficaram exilados de 1974 a 1978. Poucas vezes, viu-se um artista “possuído” desta maneira. Seu estilo único, sua maneira brasileira de buscar o mais brasileiro dos teatros, tudo isso fez de Zé Celso, um ícone. Responsável por um divisor de águas, histórico e criativo. Autor, diretor e ator, era e continua sendo,um operário do ofício.Um dos mais talentosos e originais diretores do momento e segundo alguns críticos, a mais perfeita encenação stanislavskiana do teatro brasileiro. Irreverente, irresistível e resistente. Em 2008, quarenta anos depois, José Celso Martinez Correia, ainda tem seu Teatro Oficina e continua resistindo.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Romeu e Julieta, a eterna história de amor que temperou 1968

Por Ana Cecília Abreu (Editoria de Cinema)

Os tempos turbulentos de 1968 deram um impulso extra à suavidade, à delicadeza e à profundidade com que o cineasta italiano Franco Zefirelli trouxe a público a história de amor escrita por William Shakespeare e eternizada no imaginário de todas as gerações. Na verdade, essa era a hora certa para que os jovens de então suspirassem e encharcassem lenços de tanta emoção com a história de intolerância, resistência, paixão, amor e morte vivida pelo casalzinho na Verona renascentista.

Um amor que ultrapassou as, até então, inexpugnáveis barreiras da guerra declarada dos clãs inimigos: Capuletos X Montecchios. Os dois apaixonados foram capazes de tudo para viver seu sonho. E mostraram para a sociedade que mesmo mortos, estavam vivos em seu sentimento indestrutível.

As palavras de Shakespeare foram respeitadas, o texto foi praticamente todo mantido, com o vocabulário da época. Os dois protagonistas foram lançados nesse filme e eram tão jovens quanto seus personagens: Leonard Whiting, o Romeu, tinha 17 anos e a então estreante Olívia Hussey, era uma menina de apenas 15 anos.

Foi surpreendente o que esse filme representou para toda uma geração que vivia assustada com os movimentos reivindicatórios que pipocavam por todo o mundo. A grande revolução de costumes que se operava deu espaço para a representação mais clássica de um tema eterno: o amor entre um homem e uma mulher. E não foi só isso: a produção extremamente bem cuidada, com muitas externas em igrejas e prédios de época de cidades italianas, os demais cenários, os figurinos, a trilha sonora perfeita assinada por Nino Rota, tudo colaborou para que o filme criasse no espectador uma sensação de estar vivendo com os personagens aqueles momentos.

Aqui no Brasil, por exemplo, o filme Romeu e Julieta representou uma válvula de escape necessária para aliviar das tensões e medos constantes. Uma população que vivia sobressaltada pela supressão da liberdade de expressão e de muitos direitos individuais tinha mesmo a necessidade de vivenciar sentimentos diferentes. Nesse contexto, a obra de Zefirelli a partir da obra shakesperiana foi uma alternativa de altíssimo nível.

O filme recebeu quatro indicações para o Oscar de 1969 (diretor, filme, fotografia, figurinos), tendo vencido nas categorias figurino e fotografia. Leonard Whiting e Olívia Hussey receberam os prêmios de revelação masculina e feminina do Globo de Ouro de 1969, sendo que o filme também recebeu indicação nas categorias diretor, melhor filme estrangeiro, trilha sonora.

Todo o sucesso e os prêmios obtidos por essa peça chave do cinema europeu era alvo de crítica da parcela mais engajada politicamente, que desdenhava de quem suspirava com a cena do balcão, ou se emocionava com a imagem (ousada para a época) de Romeu, nu, evidenciando que os dois jovens tinham concretizado seu amor (sob as bênçãos ocultas de Frei Lourenço). Era como se, em tempos de AI 5, prisões e perseguições políticas, não pudesse mais haver espaço para o sonho, para o amor, para o sentimento.

Mas o jovem comum, no fundo, sentia a carência desse sonhar próprio da idade. Por isso houve tão grande identificação e aceitação por parte do público. Um amor que vencia até a própria morte, era tudo de que o povo precisava então.

Romeu e Julieta foi um clássico da literatura inglesa que, através do talento de Franco Zefirelli penetrou na realidade e no imaginário de milhões de pessoas em todo o mundo e, aqui no Brasil, causou enorme comoção.

Ficha Técnica:

Romeu e Julieta
(Romeo and Juliet, Inglaterra, Itália, 1968)

Títulos Alternativos: Romeo e Giulietta
Gênero: Drama, Romance
Duração: 138 min.
Tipo: Longa-metragem / Colorido
Distribuidora(s): CIC Vídeo, Paramount Pictures do Brasil
Produtora(s): BHE Films, Dino de Laurentiis Cinematografica, Verona Produzione
Diretor: Franco Zeffirelli

“DOCUMENTÁRIO” - Rogério Sganzerla, Brasil,2007

por Claudia Elias (Editoria de Cinema)

16 mm – 11 min – Preto e branco

“Uma câmera na mão, uma idéia na cabeça” e um ano que não nos sai da cabeça.

Definindo...Rogério Sganzerla é um cara do cinema marginal. Cinema marginal foi um movimento que tentou fugir do paradigma da linguagem cinematográfica americanizada e levantar a bola da cultura brasileira, ou ainda, tentar inaugurar outros tipos de linguagem, inovar: “Uma câmera na mão, uma idéia na cabeça” – esse era o lema da galera que curtia, que fazia e que queria um cinema por assim dizer n a c i o n a l.

Rogério realizou seu primeiro curta-metragem de ficção, que contraditoriamente chamou de “Documentário”. Embora o ano em questão aqui seja o 68, e o curta em questão seja de 67, sua análise é extremamente rica, já que faz um “istântaneo” , um “frame” como se diz em cinema e abre uma janela para sabermos como se comportava e o que andava pensando a juventude pré-68. Uma “galera” que estava cansada do imperialismo cultural e sem horizonte...

Cenas que mostram “dois jovens andando por aí sem ter muito o que fazer ...” assim estão descritos os dois jovens do filme nas variadas sinopses. Na verdade são dois amigos andando pelas ruas, tentando ver alguma novidade nos cinemas e não havia nada de novo, tudo uma mesmice.

Eles andam em busca da sessão de cinema perfeita para passar o tempo e fugir da própria falta de possibilidades, tão latente devido ao momento político da época. Aí está o elo com 68, logo nos frames podemos ler no jornal “Subversão está voltando”.

Na verdade, o curta em questão, trata-se de finíssimo material no que tange à sua constante referência ao “anti-filme”, recheado de sarcasmo em relação à narrativa clássica. .O travelling sem trilhos, a “câmera na mão”, a filmagem com luz natural e a pequena equipe causando esse efeito de espontaneidade fazem de “Documentário” um filme essencial para se compreender, não o cinema de 68, mas seus cineastas.